28.11.03

Caceta!
Outra coisa: eu queria comentar dois lances sobre o filme dos Cassetas. Primeiro que é meio bizarro pra um fã da TV Pirata ver que os bons atores do programa foram fazer cinema com roteiristas que fazem piadas ruins e os roteiristas engraçados acreditaram que eram atores engraçados... bom, de todo modo há anos que muita gente acha os cassetas engraçados, então eu devo ser minoria mesmo.
Mas, bem, nosso editor Ruy notou sua estrela solitária entre o festival de bolas pretas dadas pela equipe da Contra ao filme e justificou lembrando de algumas piadas que lhe pareceram realmente engraçadas. Na verdade eu não gostei muito de nenhuma delas, não achei nenhuma engraçada ao ponto me fazer gargalhar - mas há uma piada no filme que me impressionou. Fiquei na dúvida se era ironia ou cinismo (o que pode não ser bom pra imagem do piadista mas é bom pra piada), mas confesso que fiquei estatelado na cadeira com o início do filme, ou melhor, o antes-do-início, quando entram as primeiras cartelas de crédito: aparecem então as cartelas da lei do audiovisual e das empresas incentivadoras, todas estatais, como já notou por aqui o Valentoni. E qual é a música? É Zeca Pagodinho cantando "Noventa milhões em ação/ Pra frente Brasil...". Ouvir falar em noventa milhões vendo os logotipos da ajuda estatal no início de um filme é uma piada de dar calafrios - é tão forte quanto a idéia que abre o 1,99..., o filme recente do Masagão. Aliás, merece virar a música-tema da lei do audiovisual! Agora, sempre que eu ver o logo da lei seguido do logo da Petrobras já tenho o que cantarolar: "Noventa milhões em ação/ pra frente brasil, salve a seleção..."
(Daniel Caetano)

Brasília!
A Contracampo comemora (efusivamente!) com seus redatores Felipe Bragança e Marina Meliande o prêmio que ganharam no Festival de Brasília - melhor direção em curta-metragem de 16 mm com o filme Por Dentro de Uma Gota D'Água (o mesmo prêmio que o Eduardo ganhou há dois anos com seu Sol Alaranjado).
Considerando o histórico de alguns dos concorrentes da competição de longas, até que a premiação de Brasília foi razoavelmente tranquila. Talvez tenham de fato sacaneado o Carlão, mas Don Carlone, mesmo com a cabeça quente, continua sendo um gentleman, sempre gentil com os amigos - disse que, de fato, o filme do Bressane era o melhor da competição, coisa de que discordo ser ter visto ainda o seu Garotas do ABC (afinal, já vi O Signo do Caos). Mas isso são preferências pessoais, nunca fui grande fã de Bressane (com a exceção do fabuloso Bethania Bem de Perto).
Agora, prêmio da crítica pra versão que Tendler fez de Glauber, olha, esse eu vi no Festival do Rio, e fala sério... é o baiano rosnando contra o cinema óbvio num depoimento de arquivo e sendo traído na sequência seguinte por uma explicaçãozinha piegas e óbvia (e burra) de um mundo que, para o narrador, está sempre se dividindo em dois pólos - em uma animação digital realmente constrangedora. Nada menos glauberiano, ainda mais com aqueles depoimentos apelativos e pretensamente 'emocionantes'. Era mesmo preciso enxertar as tais animações digitais e esticar um documentário televisivo, enfraquecendo e encarecendo o filme só pra ampliar pra película e exibição em cinema? Triste mesmo.
De todo jeito, há alguma justiça histórica em ver Tendler dedicar sua obra ao inesquecível embaixador Carrilho. De fato, ele merece.
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Sobre o filme do Felipe e da Marina, vale lembrar que vai ser exibido aqui no Rio na mostra Curta Cinema, que começa hoje, rolando no CCBB, no Odeon, Estação e mais alguns lugares.
Ah, e eu já ia esquecendo! A sessão de parceria da Curta Cinema e do Cachaça Cinema Clube que vai rolar no domingo vai exibir Desencontro, o filme renegado de Ed Valentón!(na verdade, nosso editor diz que não renega, mas que não é um filme). Se já não fosse por essa razão, de todo modo é um Cachaça Cinema Clube, portanto é imperdível, como o Fernando gosta de salientar.
(Daniel Caetano)

27.11.03

O nosso grande Humberto Mauro é o homenageado do Festival des 3 Continents desse ano, em Nantes, França. E não é pouca coisa. Afinal, trata-se de um dos mais importantes festivais internacionais do mundo, que serviu de porta de entrada no ocidente para o cinema de Kiarostami e de Hou Hsiao Hsien, entre outros ex-desconhecidos. O festival, que há alguns anos havia apresentado a obra de Glauber na íntegra (ou quase: Di acabou sendo vetado), propõe este ano uma retrospectiva de mestre Humberto. Ano passado, 'descobriam' Bressane em Torino. Esse ano, com Mauro, é mais uma oportunidade de mostrar que o cinema brasileiro é mais do que o Cinema Novo.
(Carim Azeddine)

19.11.03

Sem nem termos aberto inscrições, o diretor da GLOBO Filmes, Carlos Eduardo Rodrigues, dispara na frente e lança duas candidatas simultâneas ao posto de "Frase Cara-de-Pau do Ano". Como se sabe, parte da estratégia de lançamento de Casseta e Planeta - o Filme (o nome é outro, mas fica assim) é levantar nos próprios meios "da casa" a polêmica sobre o sucesso da Globo Filmes (pensemos na Globo Filmes versão Gaspar Noé: se auto-declarando polêmica). Ainda discutiremos muito aqui esta questão do cinema brasileiro, ano 2003. Até porque ela tem muitos lados, e alguns defensáveis sim. Mas o doutor Rodrigues não precisava nos passar atestado de otários... Na matéria de primeira página do Segundo Caderno do jornal O GLOBO de domingo, Rodrigues fecha questão sobre acusações de monopólio e cartel:
"- Monopólio? Eu não obrigo ninguém a entrar nos nossos filmes!".
Talvez não, doutor, talvez não. Mas que fica bem mais fácil quando os Cassetas passam vinte minutos no Faustão, têm comerciais no Jornal Nacional, no jogo da seleção e um programa todinho deles, todos na rede GLOBO , ah, lá isso fica... Sem contar a segunda primeira página no Segundo Caderno com, pasmem, uma crítica positiva a um filme da mesma organização do jornal. Para quê obrigar, né doutor? Prática mais antiga...Já aos pedidos de "condições mais iguais" entre os filmes nacionais em seu lançamento, doutor Rodrigues nos esclarece na revista Época, uma publicação das organizações GLOBO :
"- Trabalho numa empresa privada e temos compromissos com os resultados".
Perfeitamente, doutor, perfeitamente. Mas, até segunda ordem, a concessão de uma rede de TV é pública, ou não? E me parece que os primeiros logotipos a aparecer no filme dos Cassetas, com todos os seus "interesses privados", são os da BR Distribuidora e o do Ministério da Cultura, não? Ah, o maravilhoso capitalismo brasileiro e seus resultados privados com investimentos públicos!!
Em suma, doutor Rodrigues e colegas globísticos: comemoremos sim a recuperação do público para o cinema nacional e batamos palma para as estratégias de marketing da Globo Filmes. Agora, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Falando em nome de uma suposta "classe", fica o recado: pode até nos levar pra jantar e um motelzinho depois, mas não precisa ficar chamando de puta e burra nos jornais, né?...
(Eduardo Valente)

Recordar é viver - três mestres
Por coincidência, essa semana fiquei e vou ficar revendo algumas obras prediletas de artistas que já chegaram à casa dos setenta e continuam sendo figuras de proa. Vamos a eles, pra ficar de dica:

- Em literatura, fui na feira do livro comprar mais barato o novo livro do Dalton Trevisan, Capitu Sou Eu (atualizando Flaubert - se antes o autor se reconhecia na personagem, agora é o leitor que diz 'esse personagem sou eu'...). Achei por dezesseis reais (vi livraria em universidade cobrando R$29,00...) e comprei. Muito bom comprar livro novo do Dalton Trevisan.
Mas o risco de ir nessas feiras do livro é a tentação dos saldões. No estande da Record, comprei do mesmo autor mais três livros a cinco contos - um deles comprei, acho, pela quarta vez: é o Ah, É?, seu primeiro livro de ministórias que, na boa, é o melhor livro brasileiro dos anos noventa que eu conheço (foi lançado em '94), só empatando com o outro livro de ministórias, o 234, lançado em 98 pelo mesmo Dalton.

- Em música, consegui emprestados com amigos os dois discos de João Donato e seu Trio lançados em '61/'62, Muito À Vontade e A Bossa Muito Moderna de..., que foram relançados pela Dubas em CD. Ainda bem que o foram, porque a fita cassete que eu tinha com os dois se perdeu há anos, e essas gravações do Donato são preciosas como poucas coisas - talvez sejam seus melhores discos (ok, junto do Quem É Quem...). Piano, baixo (Tião Neto), bateria (Milton Banana) e percussão (Amaury), e o suíngue que rola é coisa de gênio abençoado.
De quebra, um camarada me mostrou o disco que Donato lançou recentemente com Emílio Santiago e, bom, é claro que é bem diferente dos discos acima citados, mas é bastante bonito mesmo, vou descolar minha cópia e recomendo geral.

- Em cinema, antes que me cobrem... Em cinema temos uma notícia fabulosa! Nelson Pereira já tem cópias novinhas de três filmes seus que foram restaurados com grana da BR Distribuidora: o cânone Vidas Secas e mais Azyllo Muito Louco e O Amuleto de Ogum (urrú!!!) .
Vidas Secas dispensa comentários. O Azyllo..., sendo o filme pirado e pouco convencional que é, fica deslocado entre os outros dois, mas tem qualidades que não devem passar em branco, ainda que não estejamos mais no contexto ditatorial pra entender as razões de se adaptar o Alienista do Machado.
Agora, O Amuleto de Ogum é coisa fina - pra se ver e rever nas salas de cinema, enquanto a gente espera que o Nelson termine os curtas e documentários que anda fazendo e consiga grana pros projetos de longa que tem debaixo do braço (porque é aquela história: como é que a gente pode dizer que o cinema brazuca vai bem se até Nelson Pereira não consegue grana pra fazer novos filmes?)

Enfim... há que se reconhecer: os caras passam dos setenta anos e continuam produzindo (e relançando) o que há de mais alto nível na praça.
(Daniel Caetano)

16.11.03

Cine-Buraco
Serviço ao leitor carioca - a programação dessa semana no cineclube de Laranjeiras é a seguinte:
- 18/11, terça-feira, vão exibir Os Amores de Uma Loura, filme de '65 do Milos Forman, dentro de uma mostra de primeiros filmes de diretores famosos.
- 20/11, quinta-feira, passa Metrópolis (cópia de 130 minutos) com acompanhamento musical ao vivo.
- 21/11, sexta-feira, passa O Matador Profissional, do Jece Valadão, na clássica Sessão Jiguê.
A sessão de sexta é prometida para começar às dez da noite, as outras duas são às nove. O Cine-Buraco fica dentro da Galeria Laranjeiras, Rua das Laranjeiras 336.
(Daniel Caetano)

12.11.03

Festinha!
Só pra avisar aos que ainda não sabem que segunda que vem, dia 17 de novembro, rola mais uma Maldita com djs da Contracampo na pista 2. Pista 1 com os habituais (e habitantes) Zé e Gordinho. Casa da Matriz, rua Henrique de Novaes, Botafogo, a partir de 23:30, meia-noite. Acho que tá quatro de entrada e oito de consumação (com certeza há oito de consumaçào, a entrada é que não lembro direito).
Entre as prediletas da casa: pixies, the clash, rapture, death cab for cutie, pulp, four tet, massive attack, jay hawkins, roberto carlos, mr catra, tati quebra barraco, blondie, todd rundgren, jesus and mary chain, my bloody valentine, stone roses, ride, flaming lips, mercury rev, elis regina, bezerra da silva, jorge ben, bjork, the cure, postal service, dntel, aphex twin, the byrds, zombies, the kinks, sonics, nick drake, big star, pavement, sonic youth, radiohead, strokes, interpol, caetano veloso, burt bacharach, the carpenters, omd, ramones, van morrison, ben folds five, weezer... e muito mais.
Ou seja, imperdível.
(Luiz Carlos Oliveira Júnior)

10.11.03

Esta é a última semana da promoção Contracampo/Cinemagia. Para quem ainda não se inscreveu, fica a dica: basta preencher este questionário (ou não, porque não é obrigatório -- basta informar o nome completo e o e-mail correto) para concorrer a DVDs da Cinemagia. Encerramos o concurso dia 14/11 e anunciamos os ganhadores aqui no PG no dia 20/11. Boa sorte.
(Fernando Veríssimo)