18.1.03

Ainda chocado com a morte de Pialat, fui nos meus arquivos reler uma entrevista sua para o Serge Toubiana e o Thierry Jousse no Cahiers. Uma entrevista admirável, comandada com mão de mestre e muito jogo de cintura pelos jornalistas, que tiveram dificuldade com o folclórico jeito ranzinza do cineasta. Eu me acabei de tanto rir do mau-humor de Pialat, que, visivelmente desencantado, não parava de criticar o mundo inteiro e reclamar que seus filmes não tinham boas bilheterias. Ele chutou o balde: atacou velhos clássicos, Dreyer, Hitchcock, queridinhos do Cahiers - Nouvelle Vague, Truffaut, Jules et Jim (“um filme execrável”)... acabou chegando no mito Serge Daney, dizendo que sempre o achou um sujeito “geralmente meio anfigúrico”, e nesse momento um dos jornalistas teve que interromper a entrevista : “Preferia que trocássemos de assunto. Daney era meu amigo”. O jornalista, mais tarde, logo depois de mais um ataque totalmente deslocado (dessa vez ao Cabinete do Dr. Caligari), ainda foi para cima do cineasta: “Falemos do senhor. Eu tenho a impressão de que o senhor é uma pessoa muito invejosa. Não seria mais interessante de falar dos seus filmes do que da sua inveja?”. Mais engraçada ainda foi a resposta de Pialat quando Jousse e Toubiana fizeram aquela divagação "à la Cahiers" e classificaram Le Garçu de “filme cubista”: “- Aqui entre nós, vocês também não devem ter uma bilheteria muito boa, não é?”. O homem não era fácil. (Bolívar Torres)

11.1.03

Adeus Pialat

Hoje é um dia triste para quem gosta de cinema. Morreu aos 77 anos Maurice Pialat, o diretor do inesquecível Van Gogh, do belo L'Enfance Nue, entre outras obras essenciais. Vencedor da palma de Cannes em 87, com Sob o Sol de Satã, quando recebeu o prêmio de punho levantado sob as vaias de parte da platéia ("Se vocês não gostam de mim, posso dizer que também não gosto de vocês"), autor de um cinema sem concessões nem modismos, Pialat não filmavadesde 1995, quando fez Le Garçu, seu último filme. (Carim Azeddine)